Do sonho à realidade - Parte 1
Um longo caminho entre a Belina e Paris
Viajera convidada: Camile Freitas
Jornalista, cantora de karaokê e mãe de gato
Eu lembro até hoje o momento exato em que a ficha caiu e eu entendi que teria que viajar sozinha pela primeira vez. Não foi um grande susto ou uma grande decepção, apenas um fato: “é o que tem pra hoje”.
Talvez um pouco de contexto seja necessário. Eu sou a caçula de três filhos e minha família nunca teve muito dinheiro. Nunca faltou nada, graças a Deus, mas também nunca sobrou.
Durante toda a minha infância, viajar significava enfiar as crianças na Belina do meu pai (quem lembra desse carro?) e ficar seis horas dentro dele rumo ao norte, para a casa dos meus avós maternos no Rio de Janeiro, ou rumo ao sul, para a casa de praia da minha avó postiça, na Praia de Leste, Paraná.
Não se engane: eram viagens divertidíssimas e eu tenho lembranças maravilhosas de montar teatrinhos com a minha irmã na janela da vovó, ou brincar de Uno com os amigos da praia.
Mas enquanto eu aprendia inglês assistindo Friends e Dawson’s Creek, e conhecer Nova York e Paris parecia um sonho distante, eu tinha que ver as colegas de escola viajando para a Disney, fazendo intercâmbio e contando histórias dos outlets de Miami – brasileiros, né mores?
Eu cheguei a pedir para a minha mãe algumas vezes para fazer intercâmbio, mas o dinheiro não dava. E vida que segue.
A resposta para o meu sonho de adolescente: o programa de Au Pair
Fast forward para depois da faculdade e eu tinha andado de avião só uma vez na vida: um bate e volta no Rio para entrevistar o Edson Celulari para uma revista em que eu escrevia na época.
Eu fiquei sabendo do programa de au pair quando tinha 23 anos – aquele sistema que você mora na casa de uma família e cuida das crianças por um salário “marromeno”, casa, comida, roupa lavada – que você mesma vai lavar, claro! – e uma bolsa de estudos para justificar o visto de estudante.
Era a minha chance de fazer o tão sonhado intercâmbio!
E lá vou eu. Preparei as minhas malas, comprei um monte de tranqueira brasileira para levar para a minha família americana – desde paçoca e pé de moleque a Havaianas e CD da Daniela Mercury – e fiz a minha segunda viagem de avião ever com mais umas 30 meninas (bem barulhentas, aliás).
Calma! Eu vou chegar a parte de viajar sozinha.. podemos chamar esse texto de parte 1, ok?
O hotel do treinamento ficava a duas horas de… NOVA YORK! Que sonho, que maravilha! Eu vou finalmente conhecer Nova York! Chandler Bing, aqui vou eu! Mas que decepção…
Hahahaha! Esse é o problema em criar expectativas, né? Eu e mais não lembro quantas meninas, super cansadas depois da maratona de cursos e aulas, num ônibus mequetrefe, o dia estava muito frio e chuvoso e eu não pude ver nenhum dos lugares que eu sempre sonhei na minha Nova York, porque tínhamos que seguir o roteiro do busão. Fuen Fuen Fuen…
Já na casa da minha família, um belo dia a minha host mother me pergunta: o que você pretende com essa experiência? Eu não pensei duas vezes: eu quero viajar!
Minha primeira chance de viajar sozinha
Já sabia qual seria meu primeiro destino: Londres, para visitar uma amiga da faculdade que estava dividindo um quarto com outras três brasileiras, e uma esticadinha em Paris.
Durante o dia, eu conhecia Londres sozinha, já que minha amiga estava trabalhando. Mas, à noite, essa cidade incrível era nossa… pubs divertidíssimos, uma noite inesquecível na famosa balada Heaven e um piquenique à noite, com vinho e sanduíches do McDonald’s no parque em frente à London Eye.
Essa rainha sabe das coisas!
Teoricamente, eu sabia que iria a Paris sozinha, que faria as coisas sozinha, dormir no hostel com estranhos sozinha, comer no restaurante sozinha e me virar sozinha.
Pensei até em desistir, mas estamos falando de Paris aqui. Torre Eiffel, Museu do Louvre, Champs-Élysées e todas as coisas maravilhosas que fazem jus à reputação de Paris.
Logo de cara, percebi uma das principais vantagens de viajar sozinha: você faz o seu próprio roteiro!
Você acorda a hora que quer, vai onde quer, fica a quantidade de tempo que quiser em cada local e basicamente monta a sua viagem perfeita!
Sem ter que ceder para as vontades do seu companheiro de viagem e sem precisar sacrificar algo que queira muito. Londres com a Milena foi fantástica? Sem dúvida!
Mas Paris foi a minha Paris… desde o choro ao ver a torre Eiffel até a escolha de passar O DIA INTEIRO andando pelo Louvre – incluindo a decepção com a Monalisa de Da Vinci.
Meu primeiro dia foi puxado… eu perdi meu voo Londres – Paris e acabei fazendo amigos estranhos no aeroporto enquanto esperava meu próximo vôo – afinal de contas, não é todo mundo que está disposto a conversar com uma brasileira tagarela com sotaque americano!
Paris foi minha - a descoberta das maravilhas de viajar sozinha
Chegando em Paris, fui até o hostel, larguei as malas e me joguei!
Comecei na Torre Eiffel, e chorei feito uma criança… estamos falando de 2007, crianças! Então não tinha Instagram (e um esboço do Facebook) para mostrar essas coisas para a família (uhum!).
Então eu gravava vídeos, na minha câmera digital, para mandar depois. Tive que fazer três takes para não mandar o vídeo com aquela voz embargada, cheia de choro, que a sua mãe adora ouvir quando você está sozinha no mundo!
Na torre, eu passei umas duas horas tirando fotos, andando pelo jardim, subindo nas coisas, vendo ratos nas lixeiras, e fazendo a turista.
Sem ninguém para dizer “vamos ficar mais um pouco” ou “já deu, vamos para outro lugar”: eu decidia o horário e o roteiro de tudo! Estava no céu…
Como a maioria das coisas que eu queria ver estavam na Champs-Élysées, eu decidi andar aquela avenida inteira.
Eu nunca me perdi tanto na vida! “Olha que rua linda!” e entrava ali… “Olha a janela florida! Tem outra ali do lado!” e lá ia eu. E quando eu me dava por mim, onde está Camile?
Perdida pelas ruas de Paris! E é verdade que os parisienses não gostam de pessoas que perguntam se eles falam inglês… =/
Mas eventualmente, eu achava meu caminho de volta à Champs-Élysées, rumo ao Arco do Triunfo e ao Museu do Louvre. Eu andei tanto nesse dia e fiquei tão cansada que você consegue ver nas fotos o meu humor mudando à medida que o dia vai escurecendo.
Muitas selfies, claro. Viajar sozinha significa aprender com maestria a arte das selfies.
O dia seguinte teve menos andança. Eu pude acordar a hora que quis, comer no restaurante de minha escolha e ganhar as ruas de Paris mais uma vez.
No meu segundo (e último) dia em Paris, eu fui à catedral de Notre Dame e tive a oportunidade de passar um tempão admirando todas as pequenas esculturas em sua fachada.
Não é à toa que ela demorou séculos para ficar pronta – cada pequeno rosto talhado na entrada tem uma expressão magnífica.
De lá, direto para o Louvre, onde passei horas andando e absorvendo toda aquela grandiosidade ao meu redor.
Sempre que combino uma viagem com alguém, tenho que colocar em contrato a quantidade de vezes que vão me deixar ir em um museu… mas sozinha não! E eu não me arrependo de um minuto sequer das seis horas que passei andando pelo Louvre.
Viajar com amigos e família tem suas vantagens? Claro que sim! É muito bom ter com quem dividir as coisas – emocional e financeiramente – e compartilhar lembranças, mas eu aconselho todo mundo a não descartar viajar sozinha até você tentar. Você vai se surpreender!
Na parte 2, vou contar outras experiências viajando sozinha. Como a vez que fui para Nova York no Natal e o tiozinho agarrou a minha bunda quando pediu para tirar uma foto comigo! Aguarde no Blog La Viajera!
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