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Mulheres que Voam – por Inahiá Castro

Só ganha o céu quem dá um passo no vazio

Viajar sozinha para voar - mulheres que praticam voo livre - e como são livres!

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Viajera convidada: Inahiá Castro

Jornalista e Piloto de Parapente

Viajar sozinha para voar era meu sonho de liberdade! Fui uma das primeiras mulheres a praticar voo livre no Brasil

Viajar sozinha e voar. Eu nasci com uma alma livre, e me lembro que esses eram os desejos mais fortes da minha infância. 

Quando eu pensava em ser “gente grande”, isso significava o passaporte para o mundo do “posso fazer tudo sozinha”.  

Me atraía essa possibilidade que os adultos tinham de saírem sozinhos, sem precisar andar de mãos dadas e sendo puxados por ninguém

Eles podiam ir à banca de jornal da esquina, ao supermercado, ao banco, ao trabalho, pegar estrada, ir a outras cidades, ir ao aeroporto, viajar sozinha pelo mundo. Era isso que eu queria da minha vida adulta. Queria ir…

Pertenço a uma família grande, numerosa em primos, tios, e isso me proporcionou uma infância e adolescência quase sempre na coletividade

Em casa, meus pais eram festeiros e animados, e os amigos eram sempre bem-vindos, tanto os deles como os meus e de meu irmão mais novo. 

Isso certamente contribuiu para eu me tornar uma pessoa sociável, comunicativa, que adora gente, mas também me despertou mais que a curiosidade, a necessidade de estar só; de viver momentos comigo mesma, em que as decisões de quando, como e aonde ir dependessem só de mim.

A primeira experiência veio cedo, por volta dos 14 ou 15 anos de idade, quando eu viajava para o interior ou litoral, para visitar a família, e meus pais assinavam autorizações em juizados de menores para que eu pudesse ir sozinha. Aquilo tinha um sabor incrível.

Meu sonho era ser livre: poder viajar sozinha e voar – literalmente!

O parapente me proporciona conhecer lugares incríveis no Brasil e no mundo há 27 anos

Mas foi quando comecei a praticar voo livre que o sonho realmente se concretizou e, mais que isso, se tornou um estilo de vida do qual eu não posso e nem quero me distanciar nunca mais.

Muito inerente a esse espírito de liberdade sempre foi a minha vontade de voar. Desde pequena, me imaginava voando, com ou sem asas; com superpoderes ou com equipamentos que pudessem me proporcionar a façanha. 

Prometi a mim mesma que quando eu crescesse, iria saltar de paraquedas, voar de asa delta, de vassoura, ser piloto de avião, de nave espacial, qualquer coisa que me colocasse passeando pelo céu. E foi quase isso o que aconteceu.

Em 1990, dois anos após o falecimento do meu pai, um amigo comentou comigo que havia começado um curso de paraquedismo. Ele mal terminou de falar e eu quase gritei: “eu também querooo!” E lá fui eu. 

Frequentei as aulas teóricas e em menos de duas semanas fui para a área de paraquedismo de Boituva, no interior de São Paulo, onde fiz meu primeiro salto e mais outros dois no fim de semana seguinte.

Gastei o salário de um mês inteiro pagando pelo lugar no avião, e dormi em um sleeping bag dentro de uma barraca montada no gramado da área de paraquedismo, para economizar o dinheiro do hotel

Choveu à noite, passei frio e fiquei tão molhada que tive que me abrigar no hangar, graças à boa vontade e compaixão ­do piloto do avião­ que se lembrou que eu estava acampando quando a chuva ficou forte. 

Ali eu aprendi que viajar sozinha não significa estar só e muito menos abandonada.

Minha vivência no paraquedismo não durou mais de duas semanas, quando eu percebi que o sonho tinha preço e não estava ao alcance do meu bolso. 

Uma das pioneiras do Parapente no Brasil – voando e viajando sozinha há 27 anos 

O melhor da minha viagem sozinha inicia aqui: quando começo a me conectar ao Parapente

Mas, em 1992, conheci o parapenteesporte que havia chegado ao Brasil pouco tempo antes, trazido por franceses, e que começou a ser praticado no Rio de Janeiro, então cartão de visitas do Voo Livre brasileiro. 

Conheci os pioneiros da modalidade no país e comecei a aprender e me dedicar àquele esporte que misturava a possibilidade de planeio das asas delta com a dirigibilidade e semelhança aerodinâmica dos paraquedas.

Me tornei uma das primeiras mulheres a voar de parapente no Brasil e meu hábito de viajar sozinha passou a acrescentar uma mochila de 20kg à minha bagagem. 

O esporte, que é praticado em regiões montanhosas, me levou a conhecer lugares incríveis no Brasil e no mundo nos últimos 27 anos, e apesar de estar sempre acompanhada de amigos que também voam, as viagens foram e são em grande parte sozinha.

De ônibus, trem, avião, barco, carro próprio ou carona, no final e quase sempre, sou eu comigo mesma para a escolha dos destinos, as rotas a serem seguidas, as decisões durante as viagens, os lugares onde dormir, que variam de suítes ultra confortáveis em hotéis de luxo a colchonetes no chão de algum lugar com paredes e teto.

O momento do voo é o auge do estar só – Plenitude

O melhor momento: lá no alto sou eu comigo mesma, o auge do estar só

Ainda que eu possa ter companhia para esses passeios, o momento do voo é a grande viagem dentro da viagem. E ali, sou eu comigo mesma, a centenas ou milhares de metros do chão.

Inflar um parapente e correr montanha abaixo até pisar no vazio é uma das maiores experiências de viagem para dentro de si mesmo. 

O silêncio é quase absoluto, interrompido somente pelo som do vento passando pela asa. A atenção absoluta em cada movimento proporciona o quase impossível silêncio da mente.

Não há espaço para passado e futuro, somente para o agora. Esquerda, direita, gira, sobe, desce, procura um lugar seguro, pousa.

O silêncio da mente é o auge do estar só. A possibilidade da viagem para dentro de nós mesmos. 

E quando temos essa experiência, seja pela prática de esportes de aventura, técnicas de meditação, exercícios ou práticas de busca interior, entendemos que a experiência do autoconhecimento é o caminho para encontrar prazer em estar só sem se sentir solitária.

Viajar é também e principalmente uma experiência de convivência com novas pessoas, culturas e costumes, e é preciso estar sempre bem e confiante com nossa própria companhia para ser mais maleável no convívio com outras pessoas que se somem a nós pelo caminho e façam cada viagem ser única e muito especial, como um grande voo.

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Minha Primeira Viagem Sozinha

Minha Primeira Viagem Sozinha

"Quero saber bem mais que os meus 20 e poucos anos"

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Evelyn Cheida

La Viajera, jornalista fundadora do blog que mais empodera a mulher para viajar sozinha. Lugar de mulher é onde ela quiser!

Minha primeira viagem sozinha: Guarda do Embaú - SC

Viajar sozinha foi algo que sempre desejei, desde muito nova. Morar fora também, um sonho!

Eu pensei que sabia qual tinha sido a primeira vez que tinha viajado sozinha: quando me mudei de país

Mas quando parei para pensar para escrever esse artigo, minha memória me deu um baita susto: foi bem antes disso! Eu tinha 22 anos, recém terminado um namoro de 4 anos, um grande amor na minha vida.

Dois meses depois era dezembro, verão, fui acampar com minha amiga em uma praia. Lá encontramos um amigo dela que disse que ia com uma galera pro sul e chamou a gente pra ir. Ela não podia, mas eu disse na hora: “tô dentro!

Embarquei com uma galera que não conhecia para a Praia do Rosa em Santa Catarina. Era minha primeira real aventura longe de casa. Viagem longa, outro estado, sem data pra voltar. Avisei minha mãe que ficaria pelo menos um mês fora. 

Planejei ir com eles até lá, mas depois dar um rolê só meu, viajar sozinha, fui aberta ao que pudesse acontecer.

Nem sei quantas horas de estrada. Lugar belíssimo. O pessoal até era gente boa, mas não senti uma conexão. 

Fiquei um tempo com eles (não lembro se uma semana, 10, 15 dias, faz muito tempo, rsrs), aproveitei tudo que tinha pra aproveitar no Rosa

Muita praia, muita paquera, muita balada, show do Planta e RaízPraia da FerrugemPraia do Silveira, vários rolês. O mundo parecia um ovo, lembro que, sem planejar, encontrei amigas de São Paulo e até de Santos. 

Viajar sozinha pela primeira vez

Enfim, depois de curtir tudo o que queria do lugar, resolvi partir sozinha

Não teve como escrever esse post sem lembrar dessa música que marcou essa época – na versão do Raimundos, claro:

“Eu não abro mão nem por você, nem por ninguém! Eu me desfaço dos meus planos!  Quero saber mais que os meus 20 e poucos anos!

O desafio de viajar sozinha: minha primeira aventura longe de casa - um mês de rolê pelo litoral de Santa Catarina

Parti realmente sozinha pela primeira vez. Claro que precisei de coragem para fazer algo que nunca tinha feito.

Ali eu aprenderia que viajar sozinha era a maior libertação, que eu poderia fazer só o que eu quiser, na hora que eu quiser, do jeito que eu quiser. E que eu não precisava sentir medo disso. 

Peguei um ônibus (ou carona, na real não tenho certeza) e fui pra Guarda do Embaú, outro lugar que era louca pra conhecer. 

Aluguei um quartinho só pra mim, era minúsculo. Fiz amigos. Paqueras. Tive uma noite maravilhosa na praia em noite de lua cheia com um homem lindo.

Um dia ele me levou pelas montanhas da Guarda, as paisagens são incríveis. Um eremita morava ali totalmente isolado há muitos anos. 

Ele era adepto da dieta macrobiótica, um homem totalmente zen. Eu nunca esqueci o que me aconteceu ali.

Em uma conversa que tivemos, ele conseguiu me fazer mudar um péssimo hábito que eu carregava há anos – o de ficar balançando as pernas – em um claro sinal de ansiedade

Minha mãe vivia me chamando a atenção para isso, em vão. Meu irmão tinha e tem até hoje o mesmo mau hábito. 

Enfim, esse homem de olhar tranquilo olhou pra mim e me disse o óbvio, o que minha mãe sempre dizia: que eu precisava parar com aquilo. E que eu deveria tomar chá.

Lembro da forma como ele olhou pras minhas pernas balançando. Ele me deu um chá, eu tomei. Não me pergunte como, mas isso me transformou. Nunca mais eu balancei as pernas. Pode até ser que eu faça vez ou outra, raramente, mas nunca mais como antes.

Segui viagem para outro destino

Praia da Joaquina em Floripa

Da Guarda, o próximo lugar que eu queria conhecer era Florianópolis. Lembro que falei com uma amiga que estava lá e fiquei com ela por uns dias.

Praia Mole, Galheta, Joaquina, Jurerê, aquele city tour maravilhoso, bares e baladas.

Uma pena eu não ter muitas lembranças concretas dessa viagem pra contar mais e eu nem entendo o por que disso. Nem por que eu nem lembrava que essa tenha sido realmente a vez em que eu comecei a me jogar sozinha.

Talvez porque eu ainda estivesse sofrendo com aquele término, porque eu só tinha um ano de formada e estava sem emprego. Um ano antes perdi um amigo em um acidente que me traumatizou e minha vida virou de cabeça pra baixo. Era muita coisa. Eu estava perdida na vida

E quando eu era jovem eu não me permitia sofrer. Eu me anestesiava fazendo mil coisas pra me distrair, não me deixei viver o luto. 

Interessante olhar pra trás agora e ver que essa foi a única viagem sozinha em que eu estava meio sem rumo. Era o momento que eu estava vivendo.  

Porque todas as outras viagens que eu fiz sozinha depois me trouxeram uma conexão absurda comigo mesma. 

Uma sensação de plenitude, paz, felicidade. E o mais incrível, em todas essas eu fui sozinha, mas não significa que eu fiquei sozinha… vejo as fotos e estou rodeada de gente, feliz da vida, cheia de novos amigos.

Mas isso é assunto pra outro post!

Nesse primeiro mês fora de casa foi a primeira vez que senti muita saudade de um lugar da casa, uma sensação que me persegue em todas as viagens até hoje… se você pensou minha cama, errou! 

O lugar que uma mulher que viaja mais sente saudade é o seu banheiro! Com todos os seus cremes e shampoos, etc, etc… tenho certeza que quem viaja se identificou! rsrsrs

E você, pra onde foi na primeira vez que teve coragem de viajar sozinha

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Viajar sozinha me transformou – por Luciana Cardoso

Viajar Sozinha me Transformou

Coragem é preciso para viajar em grupo. Ir sozinha é dar voz a seus sonhos

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Luciana Cardoso

Cabeleireira, viajante independente, mulher empoderada!

Aceitei esse desafio lindo, vindo da minha amiga Evelyn Cheida, de mostrar o quanto viajar sozinha me transformou. Tão importante essa iniciativa de empoderar as mulheres nesse sentido! 

Engraçado, viajar sozinha pra mim é moleza. Escrever sobre isso que será o desafio. Adorei a ideia, porque nós, mulheres que viajam sozinhas, sempre ouvem as mesmas coisas. 

Minhas amigas dizem que sou muito corajosa por viajar sozinha, que elas não têm essa coragem, que se sentem inseguras para tal, etc… 

Respondo repetidamente a mesma coisa: “coragem é necessária pra viajar em grupo! Pra colocar o seu tempo livre à disposição de um grupo com desejos e prioridades provavelmente diferentes das suas. Viajar sozinha é respeitar a si mesma e dar voz somente aos seus desejos“.

Tenho algumas histórias interessantes sobre viagens que fiz só. Mas decidi começar por uma que fiz no Brasil mesmo. Que foi mágica e mudou a história da minha vida.

Em 2009 eu tinha me separado de um relacionamento muito tóxico (muito mesmo!). Eu estava acabada, cansada, triste, me sentindo a mulher mais feia e azarada do mundo. Sim, ele conseguiu com que eu me sentisse assim. Mas foi o último, juro! 

Enfim, me enfiei no trabalho. Me sobrecarreguei pra não pensar. Trabalhava que nem uma condenada mesmo. Sou cabeleireira e, na época, lecionava em um curso profissionalizante para cabeleireiros. 

Um dia, cheguei ao trabalho e vi um anúncio de uma empresa que procurava por profissionais da beleza para trabalhar em navios de cruzeiro. Era tudo o que eu precisava. Sumir daqui. 

Mandei o currículo e fui selecionada. Fiz os testes na minha cidade (Santos-SP) e passei. Nova seleção, mas desta vez seria no Rio de Janeiro!

Não… eu nunca tinha saído de São Paulo sozinha. Não conhecia o Rio. Não conhecia nada. Até aquele dia eu era só uma mulher que cuidava da casa

Trabalhava e vivia à sombra do marido que, quando se tornou ex, me deixou à deriva. E eu achava que não sabia fazer quase nada sozinha. 

Mas eu já tinha chegado até ali. E já tinha sonhado com os lugares que eu iria conhecer, a aventura que seria e todas as possibilidades e, não! Não seria o medo de ir ao Rio de Janeiro sozinha que ia me parar.

Viajar sozinha pela primeira vez: fui com medo mesmo! E mudou minha vida pra sempre!

Mesmo com bastante medo, lá fui eu viajar sozinha pela primeira vez. À noite, linda e assustada, de busão. Eu, minha maleta de trabalho, mais uma peça de roupa e um biquíni (vai que!). Era um bate e volta. Era….

Cheguei pela manhã, peguei um táxi e fui parar no lugar onde a seleção seria feita. Passei ali o dia inteiro. Fiz tudo o que me mandaram e saí de lá às 21h muito cansada! Teria que voltarSantos, pela lógica. 

Mas enquanto comia uma coxinha duvidosa numa lanchonete, abri o Orkut. E vi uma amiga de Santos no Cristo Redentor horas antes. Era 4 de setembro, sexta-feira. Me dei conta de que segunda e terça seriam 7 e 8 (ambos feriados em Santos). Chamei minha amiga. Ela estava em Ipanema. 

“Me dá o endereço”, pedi. Meia hora depois eu estava lá. Era um hostel, gay, a uma quadra da praia e não tinha mais vaga. E aí já eram 23h. 

E enquanto conversava com a recepcionista, ouvi uma risada muito particular vindo da área da piscina e identifiquei: “é meu amigo Raul”.

“O Raul é seu amigo?”. E assim tudo se resolveu. Passei cinco dias no Rio de Janeiro. Dormindo na cama do Raul que não aparecia nem pra dormir! 

Era pra ser só um bate e volta – mas minha 1ª viagem sozinha virou uma baita festa!

Fui ao Cristo, à Lapa, a Copacabana, a todas as boates gays possíveis, a Botafogo, ao Leblon, à Mangueira e depois ao baile funk, saí da balada e fui dormir na praia…

Ao Salgueiro, ao Recreio visitar um amigo onde acabei passando a noite, fui à praia da Macumba, fui em tantos lugares com tanta gente que nunca tinha visto na vida que não caberia aqui.

Fui muito, muito, muito feliz! Foi um divisor de águas na minha vida. Me diverti sem moderação, conheci gente bacana, gente linda, gente livre. Tudo isso com um biquíni só, rsrs. Mentira, eu comprei outro.

Perdi não só o medo de ir ao Rio sozinha, como o medo de ir à qualquer lugar sozinha. Fiz amigos ali pro resto da vida. Um deles, mais tarde, reencontrei na Irlanda.

Voltei a Santos outra Luciana. Essa viagem me transformou.

Quinze dias depois, recebi a notícia que havia passado na seleção e iria à Veneza em um mês para iniciar minha saga de viagens sozinha. Estava só começando. 

E digo sem medo de errar, que a melhor decisão que tomei na vida foi a de entrar naquele ônibus para o Rio de Janeiro “on my own”.

Façam. É libertador.