Viajar Sozinha me Transformou
Coragem é preciso para viajar em grupo. Ir sozinha é dar voz a seus sonhos
Luciana Cardoso
Cabeleireira, viajante independente, mulher empoderada!
Aceitei esse desafio lindo, vindo da minha amiga Evelyn Cheida, de mostrar o quanto viajar sozinha me transformou. Tão importante essa iniciativa de empoderar as mulheres nesse sentido!
Engraçado, viajar sozinha pra mim é moleza. Escrever sobre isso que será o desafio. Adorei a ideia, porque nós, mulheres que viajam sozinhas, sempre ouvem as mesmas coisas.
Minhas amigas dizem que sou muito corajosa por viajar sozinha, que elas não têm essa coragem, que se sentem inseguras para tal, etc…
Respondo repetidamente a mesma coisa: “coragem é necessária pra viajar em grupo! Pra colocar o seu tempo livre à disposição de um grupo com desejos e prioridades provavelmente diferentes das suas. Viajar sozinha é respeitar a si mesma e dar voz somente aos seus desejos“.
Tenho algumas histórias interessantes sobre viagens que fiz só. Mas decidi começar por uma que fiz no Brasil mesmo. Que foi mágica e mudou a história da minha vida.
Em 2009 eu tinha me separado de um relacionamento muito tóxico (muito mesmo!). Eu estava acabada, cansada, triste, me sentindo a mulher mais feia e azarada do mundo. Sim, ele conseguiu com que eu me sentisse assim. Mas foi o último, juro!
Enfim, me enfiei no trabalho. Me sobrecarreguei pra não pensar. Trabalhava que nem uma condenada mesmo. Sou cabeleireira e, na época, lecionava em um curso profissionalizante para cabeleireiros.
Um dia, cheguei ao trabalho e vi um anúncio de uma empresa que procurava por profissionais da beleza para trabalhar em navios de cruzeiro. Era tudo o que eu precisava. Sumir daqui.
Mandei o currículo e fui selecionada. Fiz os testes na minha cidade (Santos-SP) e passei. Nova seleção, mas desta vez seria no Rio de Janeiro!
Não… eu nunca tinha saído de São Paulo sozinha. Não conhecia o Rio. Não conhecia nada. Até aquele dia eu era só uma mulher que cuidava da casa.
Trabalhava e vivia à sombra do marido que, quando se tornou ex, me deixou à deriva. E eu achava que não sabia fazer quase nada sozinha.
Mas eu já tinha chegado até ali. E já tinha sonhado com os lugares que eu iria conhecer, a aventura que seria e todas as possibilidades e, não! Não seria o medo de ir ao Rio de Janeiro sozinha que ia me parar.
Viajar sozinha pela primeira vez: fui com medo mesmo! E mudou minha vida pra sempre!
Mesmo com bastante medo, lá fui eu viajar sozinha pela primeira vez. À noite, linda e assustada, de busão. Eu, minha maleta de trabalho, mais uma peça de roupa e um biquíni (vai que!). Era um bate e volta. Era….
Cheguei pela manhã, peguei um táxi e fui parar no lugar onde a seleção seria feita. Passei ali o dia inteiro. Fiz tudo o que me mandaram e saí de lá às 21h muito cansada! Teria que voltar a Santos, pela lógica.
Mas enquanto comia uma coxinha duvidosa numa lanchonete, abri o Orkut. E vi uma amiga de Santos no Cristo Redentor horas antes. Era 4 de setembro, sexta-feira. Me dei conta de que segunda e terça seriam 7 e 8 (ambos feriados em Santos). Chamei minha amiga. Ela estava em Ipanema.
“Me dá o endereço”, pedi. Meia hora depois eu estava lá. Era um hostel, gay, a uma quadra da praia e não tinha mais vaga. E aí já eram 23h.
E enquanto conversava com a recepcionista, ouvi uma risada muito particular vindo da área da piscina e identifiquei: “é meu amigo Raul”.
“O Raul é seu amigo?”. E assim tudo se resolveu. Passei cinco dias no Rio de Janeiro. Dormindo na cama do Raul que não aparecia nem pra dormir!
Era pra ser só um bate e volta – mas minha 1ª viagem sozinha virou uma baita festa!
Fui ao Cristo, à Lapa, a Copacabana, a todas as boates gays possíveis, a Botafogo, ao Leblon, à Mangueira e depois ao baile funk, saí da balada e fui dormir na praia…
Ao Salgueiro, ao Recreio visitar um amigo onde acabei passando a noite, fui à praia da Macumba, fui em tantos lugares com tanta gente que nunca tinha visto na vida que não caberia aqui.
Fui muito, muito, muito feliz! Foi um divisor de águas na minha vida. Me diverti sem moderação, conheci gente bacana, gente linda, gente livre. Tudo isso com um biquíni só, rsrs. Mentira, eu comprei outro.
Perdi não só o medo de ir ao Rio sozinha, como o medo de ir à qualquer lugar sozinha. Fiz amigos ali pro resto da vida. Um deles, mais tarde, reencontrei na Irlanda.
Voltei a Santos outra Luciana. Essa viagem me transformou.
Quinze dias depois, recebi a notícia que havia passado na seleção e iria à Veneza em um mês para iniciar minha saga de viagens sozinha. Estava só começando.
E digo sem medo de errar, que a melhor decisão que tomei na vida foi a de entrar naquele ônibus para o Rio de Janeiro “on my own”.
Façam. É libertador.